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Estratégias Metacognitivas de Leitura, Motivação e Desempenho em Compreensão Leitora de Estudantes Sauditas de Inglês como Língua Estrangeira

Análise da relação entre estratégias metacognitivas de leitura, motivação para leitura e desempenho em compreensão leitora entre estudantes universitários sauditas de ILE.
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1. Introdução

A compreensão leitora é uma competência académica crítica, particularmente no ensino superior, onde é exigida uma leitura substancial em todas as disciplinas. Para os aprendentes de Inglês como Língua Estrangeira (ILE), este desafio é agravado por barreiras linguísticas. Na Arábia Saudita, a leitura e a escrita são identificadas como competências subdesenvolvidas entre os estudantes de ILE, conforme evidenciado pelos resultados de testes internacionais (TOEFL iBT®, IELTS). Este estudo investiga a interação entre três fatores-chave que se acredita influenciarem o sucesso na leitura: estratégias metacognitivas de leitura, motivação para a leitura e desempenho em compreensão leitora. A investigação visa validar ou contestar conclusões anteriores no contexto específico dos estudantes universitários do sexo masculino da Arábia Saudita.

2. Metodologia da Investigação

O estudo empregou um desenho de inquérito descritivo e correlacional para explorar as relações entre as variáveis.

2.1 Participantes e Contexto

A amostra consistiu em 60 estudantes sauditas do sexo masculino de ILE, selecionados aleatoriamente de um colégio industrial estatal em Yanbu, Arábia Saudita. Os participantes estavam ao nível universitário, representando um grupo demográfico específico dentro do sistema educativo saudita.

2.2 Instrumentos e Recolha de Dados

Os dados foram recolhidos utilizando instrumentos padronizados:

  • Inventário de Consciência Metacognitiva de Estratégias de Leitura (MARSI): Para medir a consciência e a utilização de estratégias (Globais, de Resolução de Problemas, de Suporte).
  • Questionário de Motivação para a Leitura (MRQ): Para avaliar a motivação para a leitura e áreas de interesse.
  • Teste de Compreensão Leitora: Um teste padronizado para avaliar o desempenho na leitura de textos académicos.

2.3 Análise de Dados

Estatísticas descritivas (médias, frequências) foram utilizadas para resumir os níveis de utilização de estratégias, motivação e compreensão. Estatísticas inferenciais, especificamente coeficientes de correlação de Pearson e testes t, foram empregues para examinar as relações entre as variáveis.

3. Resultados e Conclusões

Utilização de Estratégias

Nível Moderado
Resolução de Problemas (PROB) mais frequente.

Motivação para Leitura

Nível Elevado
Preferência por humor/banda desenhada.

Desempenho em Compreensão

Abaixo da Média
Contrário aos resultados esperados.

3.1 Nível de Utilização de Estratégias Metacognitivas

Os estudantes reportaram um nível moderado de consciência e utilização de estratégias metacognitivas de leitura. Entre as três categorias—Estratégias Globais de Leitura (GLOB), Estratégias de Resolução de Problemas (PROB) e Estratégias de Suporte à Leitura (SUP)—as Estratégias de Resolução de Problemas (PROB) foram as mais frequentemente empregues. Isto sugere que os estudantes são mais reativos, aplicando estratégias como reler e ajustar a velocidade de leitura quando encontram dificuldades, em vez de planear proativamente ou utilizar ajudas externas.

3.2 Nível de Motivação para a Leitura

No geral, os estudantes demonstraram um elevado nível de motivação para ler. Os seus interesses de leitura estavam inclinados para materiais não académicos, focados no entretenimento, com uma marcada preferência por humor e banda desenhada. Isto indica uma potencial desconexão entre a motivação para a leitura de lazer e a motivação para a leitura académica.

3.3 Desempenho em Compreensão Leitora

Apesar da utilização moderada de estratégias e da elevada motivação, o desempenho dos estudantes em compreensão leitora de textos académicos ficou abaixo da média. Este resultado contra-intuitivo constitui o enigma central do estudo.

3.4 Análise de Correlação

A análise de correlação produziu resultados surpreendentes:

  • Não foi encontrada uma correlação significativa entre a utilização de estratégias metacognitivas de leitura e o desempenho em compreensão leitora.
  • Não foi encontrada uma correlação significativa entre a motivação/interesses de leitura e o desempenho em compreensão leitora.
  • Foi encontrada uma correlação positiva entre a utilização de estratégias metacognitivas de leitura e a motivação para a leitura.
Estas conclusões contradizem uma parte substancial de investigação prévia noutros contextos.

4. Discussão e Implicações

4.1 Interpretação dos Resultados Contraditórios

A ausência de correlação entre a utilização de estratégias/motivação e o desempenho em compreensão sugere que, neste contexto específico, simplesmente estar ciente de estratégias ou estar motivado é insuficiente para alcançar a compreensão. Isto pode dever-se a:

  • Desadequação Estratégia-Texto: As estratégias utilizadas (principalmente de Resolução de Problemas) podem não ser apropriadas ou eficazes para as exigências específicas dos textos académicos em inglês.
  • Limiar de Proficiência Linguística: Como sugerido pela Hipótese do Limiar Linguístico, a proficiência em inglês dos estudantes pode estar abaixo do nível necessário para que as estratégias metacognitivas se transfiram para uma compreensão eficaz. Lacunas básicas de descodificação e vocabulário poderão anular os esforços estratégicos.
  • Qualidade vs. Quantidade da Utilização de Estratégias: Uma consciência ou frequência de utilização *moderada* não equivale a uma aplicação *eficaz* ou *apropriada*. A execução das estratégias pode estar incorreta.
  • Tipo de Motivação: Uma elevada motivação para a leitura de lazer (banda desenhada) não se traduz em envolvimento com textos académicos, salientando a diferença entre a motivação intrínseca para o prazer e a motivação mais extrínseca frequentemente necessária para tarefas académicas.

4.2 Implicações Pedagógicas

O estudo implica que o ensino de ILE em contextos semelhantes deve ir além de apenas ensinar estratégias ou tentar aumentar a motivação geral. O ensino deve ser mais integrado:

  • Ligar explicitamente estratégias específicas a tipos de texto e tarefas específicas.
  • Garantir uma base sólida em competências linguísticas básicas (vocabulário, gramática) para permitir a eficácia das estratégias.
  • Concentrar-se em fomentar a motivação para a leitura académica, tornando os textos académicos mais acessíveis, relevantes e cativantes.
  • Fornecer prática com andaimes, onde os professores modelam não apenas *que* estratégia usar, mas *como* e *quando* aplicá-la eficazmente.

5. Análise Técnica e Enquadramento

5.1 Enquadramento Estatístico

A análise central baseou-se no coeficiente de correlação de Pearson ($r$) para medir relações lineares. A fórmula é: $$r_{xy} = \frac{\sum_{i=1}^{n}(x_i - \bar{x})(y_i - \bar{y})}{\sqrt{\sum_{i=1}^{n}(x_i - \bar{x})^2}\sqrt{\sum_{i=1}^{n}(y_i - \bar{y})^2}}$$ Onde $x_i$ e $y_i$ são os pontos individuais da amostra (por exemplo, pontuação de estratégia e pontuação de compreensão), e $\bar{x}$ e $\bar{y}$ são as médias da amostra. O teste t foi utilizado para determinar a significância da correlação: $$t = r\sqrt{\frac{n-2}{1-r^2}}$$ com $gl = n-2$. A hipótese nula ($H_0: r = 0$) foi testada contra a alternativa ($H_1: r \neq 0$). A falha em rejeitar $H_0$ para os pares estratégia-compreensão e motivação-compreensão é o principal resultado estatístico do estudo.

5.2 Exemplo de Enquadramento Analítico

Análise de Caso: O Estudante "Motivado mas com Baixo Desempenho"
Considere um estudante hipotético, Ahmed, da coorte.

  • Perfil: Reporta um elevado prazer em ler banda desenhada (pontuação MRQ: 4.5/5). Reporta uma utilização moderada da releitura quando confuso (pontuação estratégia PROB: 3.8/5).
  • Tarefa Académica: Lê um texto expositivo de 500 palavras sobre energia renovável.
  • Processo: Ahmed encontra vocabulário desconhecido ("fotovoltaico", "integração na rede"). Ele emprega a sua estratégia preferida: relê a frase várias vezes. No entanto, devido ao vocabulário limitado, a releitura não esclarece o significado. A sua motivação para o tópico é baixa, pelo que não persiste nem procura outras estratégias (por exemplo, usar pistas contextuais, procurar palavras).
  • Resultado: A pontuação no teste de compreensão é baixa. O enquadramento mostra: Motivação (lazer) + Aplicação Ineficaz de Estratégias + Baixa Proficiência Linguística → Má Compreensão. Este microcaso ilustra porque é que as correlações a nível macro não foram significativas.

6. Direções Futuras de Investigação

Este estudo abre várias vias para investigação futura:

  • Estudos Longitudinais: Acompanhar estudantes ao longo do tempo para verificar se o aumento da proficiência permite que as estratégias se tornem mais eficazes.
  • Análises Qualitativas Aprofundadas: Utilizar protocolos de pensar em voz alta para compreender a *qualidade* e o *contexto* da utilização de estratégias, não apenas a frequência autorreportada.
  • Estudos de Intervenção: Conceber e testar intervenções integradas que combinem instrução explícita de estratégias, construção de vocabulário e atividades de construção de motivação adaptadas à leitura académica.
  • Comparações Interculturais: Replicar o estudo noutros contextos de ILE com culturas educativas semelhantes ou diferentes para isolar fatores contextuais.
  • Abordagens Neurolinguísticas: Empregar EEG ou fMRI para estudar a carga cognitiva e a eficiência neural associadas à utilização de diferentes estratégias em vários níveis de proficiência.

7. Referências

  1. Meniado, J. C. (2016). Metacognitive Reading Strategies, Motivation, and Reading Comprehension Performance of Saudi EFL Students. English Language Teaching, 9(3), 117-131.
  2. Alsamadani, H. A. (2001). The relationship between Saudi EFL college-level students' use of reading strategies and their EFL reading comprehension. (Tese de doutoramento).
  3. Al-Jarf, R. S. (2007). Teaching reading comprehension to ESL/EFL learners. Journal of Language and Learning, 5(1), 63-71.
  4. Educational Testing Service. (2014). Test and Score Data Summary for TOEFL iBT® Tests.
  5. International English Language Testing System. (2014). IELTS Test Performance Data.
  6. Mokhtari, K., & Reichard, C. A. (2002). Assessing students' metacognitive awareness of reading strategies. Journal of Educational Psychology, 94(2), 249-259.
  7. Wigfield, A., & Guthrie, J. T. (1997). Relations of children's motivation for reading to the amount and breadth of their reading. Journal of Educational Psychology, 89(3), 420-432.
  8. Clarke, P. J., Snowling, M. J., Truelove, E., & Hulme, C. (2010). Ameliorating children's reading-comprehension difficulties: A randomized controlled trial. Psychological Science, 21(8), 1106-1116.

Perspetiva do Analista: Desconstruindo o Paradoxo da Leitura em ILE na Arábia Saudita

Ideia Central: O estudo de Meniado desfere um golpe crucial e contrário à ortodoxia estabelecida na pedagogia de ILE. Os "sagrados" pilares do "ensino de estratégias" e do "aumento da motivação" revelam-se potencialmente inertes—ou pelo menos insuficientes—dentro do ecossistema único da educação em colégios industriais para homens na Arábia Saudita. A verdadeira perceção não é que as estratégias não importem, mas que a sua eficácia é mediada contextualmente por um limiar de proficiência linguística e pelo tipo de motivação presente. Isto alinha-se com o mais amplo "problema de transferência" nas ciências da aprendizagem, onde as competências ensinadas isoladamente falham em ser aplicadas em ambientes de desempenho complexos, um desafio também observado no treino de IA, onde os modelos têm bom desempenho em benchmarks mas falham em aplicações do mundo real.

Fluxo Lógico e Pontos Fortes: A metodologia do estudo é robusta para os seus objetivos correlacionais. A utilização de instrumentos estabelecidos (MARSI, MRQ) permite a comparação com uma base literária global. O seu maior ponto forte é o seu resultado negativo diagnóstico. Ao não encontrar correlação onde uma era fortemente esperada, atua como um canário na mina de carvão, sinalizando que o modelo padrão de ensino da leitura está a funcionar mal neste contexto. Isto é mais valioso do que mais um estudo a confirmar relações conhecidas. Força uma reavaliação de pressupostos, tal como resultados inesperados em avaliações de modelos de linguagem de grande escala (por exemplo, quedas de desempenho em certas tarefas de raciocínio) levam a perceções arquitetónicas mais profundas.

Falhas e Limitações: A análise, no entanto, para à beira da causalidade. O desenho transversal só pode mostrar co-ocorrência, não direção. A utilização de estratégias "moderada" é uma caixa negra—será de má qualidade, mau timing ou má seleção? O estudo sugere, mas não testa empiricamente, a Hipótese do Limiar Linguístico, um conceito bem estabelecido em investigação de instituições como o Centro de Linguística Aplicada. Um desenho mais poderoso teria incluído uma medida direta do tamanho do vocabulário ou conhecimento gramatical (por exemplo, um teste do quadro de referência EAQUALS do British Council) como uma variável moderadora num modelo de regressão. A amostra—60 homens de uma instituição—limita severamente a generalização, mesmo dentro da Arábia Saudita.

Perceções Acionáveis: Para educadores e decisores políticos, este estudo é um mandato para integração, não para abandono. Primeiro, diagnosticar o limiar. Utilizar ferramentas como testes de nível de vocabulário para garantir que os estudantes têm a matéria-prima (palavras, gramática) para as estratégias funcionarem. Segundo, projetar a transferência de motivação. Aproveitar o elevado interesse em banda desenhada, utilizando romances gráficos para introduzir tópicos académicos ou narrativas complexas, criando uma ponte da leitura de lazer para a leitura académica, uma técnica apoiada por investigação da Escola de Pós-Graduação em Educação de Stanford sobre envolvimento. Terceiro, passar do ensino de estratégias para o ensino de leitura estratégica. Isto envolve conhecimento condicional: "Use a leitura rápida (uma estratégia Global) QUANDO precisar da ideia principal de um texto longo, MAS use uma releitura cuidadosa (uma estratégia de Resolução de Problemas) QUANDO encontrar um parágrafo denso e definicional." É este conhecimento procedimental condicional, do tipo "se-então", que provavelmente está em falta. O futuro da investigação em leitura de ILE aqui reside em modelos dinâmicos e multivariáveis que tratam a proficiência, a estratégia e a motivação não como alavancas independentes, mas como engrenagens interativas numa máquina cognitiva complexa.